Eu sonhei em fazer um livro que me lembrasse uma casa de vó. Encontrar a finíssima estética do aconchego, descanso e panos de prato com desenhos floridos. Inauguração do Coração de Pássaros de Louro é o resultado de dois anos de poesia. Mais que isso, é a entrega de minha jornada a todos vocês que, desde agora, leem-na. Vocês me verão lutando contra as palavras, abraçando-as, odiando-as, amando-as, cansando-me e me divorciando delas até encontrar minha poética. Uma poética que fui buscar no mais terrenal chão, no mais perene rio, e no mais divinal canto de sabiá. Este livro é feito de raízes, galhos, folhas, penas, asas, riachos, estrelas, cantigas ao luar.
Autor
Neste livro tentei capturar a melancolia em vários dos seus sentidos, desde a melancolia perante a passagem do tempo, a infância, a perda do amor e a morte, até aquela derivada de problemas sociais e elementos do cotidiano.
Assim como no meu livro Rumo ao Âmago da Própria Voz, organizei os poemas para serem lidos em sequência, quase como se fossem um único. E recursos como a duplicação de vogais (por exemplo em “especiaais”, na página 101) foram intencionais, em geral por razões de ritmo. E também intencionais os diversos tamanhos e fontes de letras.
Uma boa leitura a todos e espero que sintam cada um dos mares onde nos afogamos.
Autor
Clara sempre quis saber mais sobre as pessoas que cruzavam o seu caminho em aeroportos. Quem eram? Quais seus gostos? Por que viajavam? Neste livro, você encontra as histórias de passageiros de uma perspectiva surpreendente. A força das narrativas mergulha e atravessa conceitos como saudade, viagem, permanência presente e futuro. Enquanto isso, as memórias pessoais da jornalista se cruzam com os trajetos dos seus entrevistados e com as percepções de outro alguém que também observa atento todos os encontros diante de si. A fotografia das chegadas e partidas é contada por um olhar observador de quem escreve para desconstruir e questionar. A profundidade da temática se costura com a leveza dos diálogos corriqueiros, mas repletos de intencionalidade.
Autora
“Nasceu o cosmos!
Tracemos o caminho reverso:
Para chegar aos confins do mundo,
É necessário engolir a palavra”
O excesso é nada além disto, o que separa o mergulho do afogamento, o aconchego da mão fria sobre a fo- gueira da queimadura, o suor frio do amor da malariante febre terçã, o erótico do pornográfico, a sublime e subliminal arte da explícita loucura.
Onde a obra de Breno Duarte amanhece e se alumia no cenário literário? Num momento onde muitos se afundam em quão raso são os mares dispostos, mergulhando de cabeça em poças de sentido, que a muitos ganharam prometendo o oceano, a obra do tocantinense Breno é uma estrela tão fascinante, que se os lumes da noite fossem notas numa galáctica partitura seu livro seria o estonteante “Si” da versão de Elis Regina de “Samba de uma nota só” de 1971.
A dosagem certa de palavras e silêncios. O equilíbrio delicado. Alinhado. Ou melhor, desalinhado. Diversos versos de uma só palavra, que mascaram tenuamente centenas de espaços em branco que, sem perceber, completamos, nem que seja de interrogações.
Não percam tempo. O poeta tocantinense Breno Duarte e sua arte são essenciais pra nossas estantes e vidas.
Autor
Enquanto enxergo
As estrelas
Caindo do meu teto
Só consigo
Pensar que nunaca vi
Um temporal tão lindo
Eu pude dançar
Numa chuva
De estrelas cadentes
E não fiz nenhum pedido
A cada passo dado
Eu ouvia um castelo desmoronando
E eu só sentia
Que dentro do seu abaço eu tinha
O lugar mais seguro do mundo
Enquanto todos correm
Com medo da morte
Nós dois sentimos
Cada vez mais palpável
As partículas de vida
E ali
Era o fim do mundo
Não o nosso
(O mundo acaba hoje
E eu estare dançando
Com você!)
Autor
O Brasil, um território indígena que foi invadido por colonizadores europeus, tem muita história para contar e criar. Num compromisso com a luta e os afetos de nossa história, a Piraputanga busca honrar os escritores e as escritoras cujas palavras habitam nossas carnes e nossos sonhos.
Filho de uma escritora com um designer de livros, Gabriel Gruber cresceu sentindo os livros como partes de seu corpo. “Não lembro de nenhuma parte da minha existência sem tê-los por perto e foi por isso que decidi estabelecer uma relação vitalícia com eles. Não apenas como leitor, mas também como editor”, conta.
Ao fundar a Piraputanga, decidiu estender essa relação carnal e onírica com as palavras para mais pessoas. “Agora, não somos apenas eu e eles. Somos eu, eles, você, nossos e nossas ancestrais. Nossos afetos, potências, pensamentos e cultivos que se entrelaçam em leituras e escritas de comunidade e comunhão”, convida.
Prezar por nossa comunidade coloca a Piraputanga diante de uma responsabilidade política que norteia sua linha editorial. Trata-se de uma editora que dá a ver as veias abertas da América Latina, o genocídio indígena, o racismo estrutural, a misoginia nossa de cada dia, o ataque ao clima do planeta, a devastação de nossas florestas a colonização em curso. No entanto, sobretudo para que não falemos apenas das cicatrizes, trata-se de uma editora que dá a ver as potências dos povos indígenas e do povo preto, das mulheres, das crianças, dos rios e dos peixes, das árvores, da espiritualidade, da ciência, da poesia e da coletividade.
